Todos os seres vivos relacionam-se uns com outros, tanto da mesma espécie (relações intraespecíficas) quanto de espécies distintas (relações interespecíficas). Essas relações podem ser harmônicas, quando não há prejuízo para nenhum dos indivíduos envolvidos, ou desarmônicas, quando pelo menos um se prejudica.
Relações intraespecíficas harmônicas:
Sociedade: Indivíduos da mesma espécie que se mantêm anatomicamente separados e que cooperam entre si por meio de divisão de trabalho. Geralmente, a morfologia corporal está relacionada com a atividade que exercem. Ex.: seres humanos, leões que vivem em grupos mantendo assim a defesa do território da invasão de machos de outros grupo, as fêmeas saem à caça. Os insetos, constituem sociedades chamadas de eussociais. As abelhas, cupins, formigas, organizam-se em sociedade com clara hierarquia e divisão do trabalho entre os indivíduos, formando grupos especializados, denominadas castas ou classes sociais.
Colônia: indivíduos associados anatomicamente. Eles podem apresentar-se semelhantes (colônias isomorfas), exemplo os corais; ou com diferenciação corporal de acordo com a atividade que desempenham (polimorfas). Nas colônias os indivíduos de uma mesma espécie vivem intimamente ligados entre si, beneficiando-se mutuamente. Ex.: corais que podem abrigar milhões de indivíduos num mesmo esqueleto calcário, como ocorre na Grande Barreira de Coral australiana. A alga Volvox sp. é um a colônia em cujo interior há indivíduos unicelulares biflagelados que proporcionam a movimentação de toda colônia. Na caravela-portuguesa, Physalia pelagica, um cnidário marinho, a dependência e a especialização entre indivíduos nas colônias é enorme, que chegam a dar a impressão de serem órgão complementares de um único organismo.
Cooperação: em várias situações, os indivíduos de uma mesma espécie se relacionam de forma a proporcionar benefícios para todos os envolvidos na relação. Esse comportamento cooperativo pode ter diferentes funções como aumentar a proteção, economizar energia e otimizar a caça e o cuidado com a prole. A cooperação nem sempre é muito evidente, mas geralmente está presente nas espécies cujos indivíduos permanecem próximos uns dos outros. Ex.: animais herbívoros como as zebras pastam em grandes grupos, protegendo-se mutuamente do ataque de predadores. Estudos mostram que a formação em "V" observada no voo das aves migratórias proporciona um redução da resistência de ar, o que diminui a energia gasta por cada indivíduo quando comparado ao voo solitário. As piranhas organizam-se em cardumes e atacam presas relativamente grandes.
Relações intraespecíficas desarmônicas:
Competição: ocorre quando os indivíduos da mesma espécie, que necessitam dos mesmo recursos e estes estão escassos, como água, alimento, parceiros para reprodução, espaço, luz, etc. Não sendo suficiente para atender a às necessidades de todos os indivíduos, eles passam a disputar os recursos disponíveis de maneira direta: por meio de lutas, agressões e outros comportamentos inamistosos, ex.: os antílopes. Ou pela produção de substâncias químicas que inibem o crescimento de outros, como observado em algumas espécies de plantas e moluscos que habitam costões rochosos. E de maneira indireta: em geral menos evidente, ocorre quando um indivíduo consome um recurso de tal forma que acaba por torná-lo indisponível para os outros. Por exemplo um espécie de planta que necessita de luz intensa e ao crescer produz sombra ao se redor, compete com as mais jovens pela luminosidade e inibe o desenvolvimento destas. Ex. anêmona Anthhopleura elegantissima.
Canibalismo: ato no qual um indivíduo alimenta-se de outro(s) da mesma espécie. Embora incomum indivíduos da mesma espécie podem ter relações de predação em algumas condições. Situações em que a população cresce demasiadamente e há falta de recursos essenciais, como espaço alimento, água, podem provocar a ocorrência de canibalismo. Esse comportamento é observado em criatórios de camundongos e joaninhas. Na natureza é comum entre as lagartas-do-cartucho do milho Spodoptera frugiperda. As larvas maiores devoram as menores, evitando o desenvolvimento de vários indivíduos na mesma espiga. Para o Louva-a-deus é hábito comum as fêmeas devorarem os machos numa luta que antecede a cópula. Nos galináceos jovens, os jovens pintinhos com dias de nascidos, quando agrupados em galpões não suficientemente grandes para abrigá-los podem, ocasionalmente apresentar canibalismo, como uma forma de controlar o tamanho da população. O canibalismo faz parte do comportamento sexual de algumas aranhas, a viúva-negra a Latrodectus mactans é conhecida por se alimentar do parceiro após a cópula.
Relações interespecíficas harmônicas:
Mutualismo: indivíduos de espécies diferentes que se encontram intimamente associados, criando vínculo de interdependência, em que um, não vive sem o outro. Ambos se beneficiam. A capacidade de digestão de celulose pelo cupim resulta de uma relação de mutualismo com os protozoários que vivem no interior do intestino dos cupins. Pois eles digerem a celulose da madeira ingerida por estes que não conseguem digerir. Atuado assim como fonte de nutrição e proteção para esses protozoários que só sobrevivem no seu interior. Outros exemplos são dos liquens (fungos + cianobactérias); micorrizas (fungos + raízes de plantas).
Protocooperação: indivíduos que cooperam entre si, trazendo benefício para todos os indivíduos, mas não são dependentes um do outro para sobreviver, pois essa associação não é obrigatória pois os indivíduos podem viver isoladamente. Ex.: o caranguejo-ermitão e algumas espécies de anêmonas, é comum encontrar o caranguejo dentro das conhas de moluscos onde se abrigam. Muitas vezes sobre a concha ocupada pelo caranguejo encontram-se algumas anêmonas. Há benefícios para os caranguejos pois as anêmonas possuem tentáculos urticantes que impedem a aproximação de predadores. A anêmona por sua vez aumenta sua mobilidade utilizando o caranguejo como meio de transporte, além de aproveitar de seus alimentos. Outro exemplo o peixe-palhaço e anêmona (o primeiro ganha proteção, e o segundo, restos de alimentos); nos pastos e nas savanas é comum a presença de aves pousadas no dorso de bois, búfalos cavalos, os mamíferos se veem livres dos parasitas e as aves se alimentam dos carrapatos.
Inquilinismo: uma espécie usa a outra como abrigo, mas somente ela se beneficia, mas sem causar prejuízos à outra. Assim a relação oferece benefícios para o inquilino que obtém abrigo e proteção, mas é indiferente para os hospedeiro. Os exemplo mais tradicionais são das plantas epífitas como orquídeas e bromélias. Essas plantas se fixam nos troncos e ramos das árvores e assim obtêm maior acesso à luz solar, necessária à sua sobrevivência.
Comensalismo: relação na qual apenas uma espécie beneficia-se com recursos alimentares, mas sem causar prejuízos à outra. São exemplos de espécies comensais: os urubus que se alimentam de restos de comidas descartados pelo ser humano em 'lixões'. As hienas que aproveitam da carniça remanescente da caça por leões; as cracas que aderem ao corpo de algumas baleias e assim se deslocam e aumentam a sua capacidade de filtrar alimento. Outro exemplo é o peixe-piloto que prende-se ao tubarão para se alimentar dos restos de comida dele e também para se locomover com maior agilidade. Um símbolo do comensalismo é a relação que ocorre entre as rêmoras (de diferentes espécies) e outros animais como as tartarugas, raias e tubarões. A rêmora possui um ventosa em seu dorso com a qual ela se prende ao corpo do outo animal, aproveita a carona e também os restos de alimentos da presa capturada por esse animais.
Relações interespecíficas desarmônicas:
Competição: as razões que levam a competição interespecíficas são praticamente as mesmas apresentadas no item competição intraespecífica. Ocorre quando duas espécies diferentes ocupam o mesmo nicho ecológico ou quando ocorre sobreposição parcial do nicho e elas dependem de alguns recursos comuns como alimento espaço, luminosidade, etc. Pode ser de maneira direta: como exemplo a Anêmona Anthopleura elegantissima como vimos compete por espaço diretamente com as anêmonas da mesma espécie, também exibe seus tentáculos venenosos quando um eventual intruso de outra espécie se aproxima. De maneira indireta: as fêmeas do besouro Neopallodes intermis que evitam a competição com outras fêmeas da mesma espécie, ao escolherem os maiores cogumelos, competem de maneira indireta com outras espécies que colocam seus ovos no mesmo cogumelo. Ex.: espécies que se alimentam de capim como a cigarrinha e o gado bovino; diferentes espécies de insetos e beija-flores que se alimentam de néctar de flores da mesma espécie; anêmonas, algas e mariscos que habitam costões rochosos marinhos competem por espaço; diferentes espécies de plantas de uma foresta competem por luz, etc.
Predatismo: é a relação em que o indivíduo de uma espécie mata um indivíduo de outra espécie para se alimentar. Em geral, o conceito de predação esta associado aos "grandes predadores", ou seja, aqueles animais que estão no topo das cadeias alimentares, como leões, as onças, os ursos, os tigres e o ser humano. Mas há ampla gama de organismos predadores na natureza, e nem todos são de grande porte, ocupam o topo das cadeias alimentares ou são animais. As plantas carnívoras são um exemplo de predação entre os vegetais. Os tamanduás que se alimentam de formigas, os sapos ou aranhas que capturam insetos, gaviões comedores de serpentes e joaninhas que comem pulgões são exemplos de predadores menores. Alguns predadores forrageiam, isto é, movimentam-se pelo ambiente em busca de presas, outros utilizam a estratégia da espera e há ainda aqueles que preparam armadilhas, como teias tecidas pelas aranhas.
Parasitismo: é uma relação em que uma espécie, o parasita utiliza o organismo de outra, o hospedeiro como fonte de alimento (e muitas vezes também como habitat), necessariamente lhe causando prejuízos. Em geral os prejuízos causados pelo parasita não chegam a debilitar o hospedeiro de forma significativa e dificilmente ocasionam a sua morte. Essa relação envolve grande especialização de ambas as partes. o hospedeiro se especializa em se proteger dos danos causados pelo parasita, enquanto este se especializa em evitar essas reações de defesa, sendo possível assim, obter os recursos de que necessita sem eliminar seu hospedeiro. Diversos parasitas usam um terceiro organismo, que funciona como vetor de dispersão entre um hospedeiro e outro. geralmente o vetor não é atingido pelo parasita, funcionando como agente contaminador. É por isso que muitas campanhas de combate a doenças parasitárias visam a eliminação do vetor, como ocorre no caso da dengue. Espécies que vivem dentro do hospedeiro são chamadas de endoparasitas, como o exemplo da lombriga Ascaris lumbricoides, que parasita o tubo digestório humano e dos vírus bacteriófagos que injetam seu material genético em bactérias e passam a utilizar o metabolismo delas para sua reprodução. Já as espécies que vivem fora do hospedeiro são chamadas de ectoparasitas, como os carrapatos, as pulgas, os fungos, certas lagartas em algumas folhagens.
Amensalismo: ou também conhecido como antibiose, é um tipo de interação desarmônica na qual indivíduos de uma população secretam substâncias que inibem o crescimento e desenvolvimento de outras espécies. A espécie que secreta a substância é chamada de inibidora, enquanto a espécie que é prejudicada denomina-se amensal. Nessa interação, a espécie inibidora não se beneficia da espécie amensal. Alguns exemplos de amensalismo são os fungos que produzem substâncias antibióticas que inibem o crescimento de bactérias. Plantas e pequenos animais do solo prejudicados com a passagem de animais de grande porte, como elefantes. Algumas plantas possuem raízes que secretam substâncias capazes de impedir o crescimento de outras espécies naquele local. A maré vermelha, na qual há uma grande proliferação de algas que produzem toxinas capazes de prejudicar a vida dos seres aquáticos. Essas alterações causam mortalidade das formas jovens e adultas dos amensais, redução da fecundidade, do tempo de vida e afeta o desenvolvimento geral dos indivíduos.
Herbivoria: é um tipo de relação ecológica que ocorre entre certos animais e plantas. Nesta relação os animais ingerem partes da planta viva para seu alimento e nutrição. A planta então sofre prejuízo enquanto o animal obtém vantagem. Os insetos podem praticar também diferentes formas de herbivoria. Os insetos minadores residem e se alimentam da epiderme das plantas, enquanto os insetos bloqueadores ficam nas camadas profundas das plantas. Há também os sugadores de seiva, que podem provocar dificuldade de crescimento vegetal, além da possibilidade de transmissão de doenças. Existem também os insetos galhadores, que estimulam quimicamente a planta, para que esta desenvolva um aumento no tamanho ou no número de células e lá se estabeleça. É interessante lembrar que a herbivoria é praticada também por animais maiores como os ruminantes, como exemplo a vaca, as girafas e os elefantes. Para evitar esse prejuízo sofrido pelas plantas, elas desenvolveram mecanismos de defesa contra predadores como a produção de toxinas, repelentes, espinhos, defesas físicas e químicas. Todas essas defesas são importantes para o vegetal, fazendo com que certas plantas sejam excluídas do cardápio dos animais.